Transdisciplinaridade e a Arte de Lima de Freitas
Lima de Freitas
Seus temas principais foram inicialmente o povo e suas contradições, seguidos da Natureza e seus ciclos, os mitos clássicos e seus respectivos mitemas, os símbolos universais, e a partir dos anos 70 a Geometria Sagrada e os mitos originais lusitanos e desse território ele vai trazer uma série de imagens estampadas em painéis de azulejo que se encontram na estação de metrô/trem do Rocio no centro de Lisboa onde estão representadas as principais figuras da história de Portugal. Lima de Freitas se interessou por muitos assuntos durante sua vida e que se refletiram na sua obra como a psicologia arquetípica de Jung estudando exaustivamente os símbolos e os arquétipos, as obras esotéricas do Oriente e suas diferentes vertentes e cujo centro de interesse era revelar os “estados múltiplos do Ser” segundo a concepção de René Guénon, a Geometria Sagrada quando retomou a obra de Almada Negreiros escrevendo um livro sobre o assunto, além de estudos na área da Antropologia do Imaginário na linha de Gilbert Durand que estudando o Homem, identificou em todas as culturas uma unidade composta de dois registros, um diurno e um noturno. Lima, em toda a sua obra, utilizou sempre esses dois registros: o que via e vivia de dia (o consciente) e o que vivia e sonhava de noite (o inconsciente). Lima de Freitas explorou temas universais como o Graal, o Espelho, o Labirinto, a Rosa e a Cruz, o Homem Encoberto, o Livro Fechado, o Amor Eterno além dos grandes temas da Geometria Sagrada e dos mitos da sua terra. Suas obras pictóricas expressavam uma profunda consciência da ruptura do espaço-tempo dando à Natureza uma dimensão cósmica onde a Natureza não é simplesmente a natureza que se vê, mas a Natureza da Natureza onde o Homem tem seu lugar. A Natureza tem nas suas obras uma alma própria, ela é um território físico que é também um território mítico onde existem espaços de ruptura e paradoxalmente se constitui numa grande unidade. Ao lado das grandes obras de pintura que produziu, escreveu diversos livros como Pintura Incômoda, Almada e o Número, Imagens da Imagem, Porto do Graal, O Labirinto, etc. Sua pintura se coloca entre um realismo e uma surrealidade mística que segundo ele “é uma contínua investigação do tema, um realismo simultaneamente voltado para o social e alimentado pelo inconsciente”. Vitória Mendes de Barros |