Em setembro: Por uma Psicanálise Transdisciplinar por Ignácio Gerber

Em 1858 o matemático Edwin Abbott escreveu um livro, Flatland, que antecipa a ficção científica e os desenvolvimentos atuais da Física, da psicanálise e, talvez principalmente, da transdisciplinaridade. Abbott imaginou um mundo plano, ou seja em duas dimensões apenas de tal modo que seus habitantes não podem nem ao menos conceber a idéia de uma terceira dimensão que para nós, seres tridimensionais faz parte inerente à nossa concepção sensorial e emocional do mundo e de nós mesmos. Para facilitar imaginem este mundo como uma folha de papel onde os personagens fossem segmentos de reta ou polígonos movimentando-se nessa "terra chata". Bem, Abbott imagina então que uma circunferência tridimensional atravesse esse mundo, transpasse-o. O que acontece? Quando ela toca esse plano (pensem num aro de arame atravessando a folha de papel) surge um ponto (ponto de tangência) que se divide em dois pontos que se afastam a igual velocidade até atingir a distância do diâmetro e depois vão se aproximando, voltam a ser um ponto e este desaparece. Os cientistas, psicanalistas e poetas de Flatland ficam perplexos não conseguindo explicar o que aconteceu. Entre outras dúvidas, como os pontos se comportam igualmente embora nada os ligue na sua dimensão conhecida (o problema clássico atual da não localidade). Ora, para nós que temos acesso a esta outra dimensão espacial ortogonal tudo é muito simples: existe uma conexão multidimensional que escapa a eles. Imagino a Transdisciplinaridade como uma conexão multidimensional que, como a circunferência acima, empresta sentido às diversas áreas do conhecimento, fragmentárias quando vistas apenas tridimensionalmente. Basarab Nicolescu já utilizou esse exemplo.