Cetrans

cetrans@cetrans.com.br          www.cetrans.com.br          www.cetrans.ning.com


Purusha – O Homem Cósmico
Jean Biès [1933 – 2014]


O Homem mais velho. Ele é também o mais futuro.
Seus braços multiplicam o ar de uma presença ágil.
Seu rosto, sílex de sol, é tão puro
que se reflete claro mesmo em espelhos de argila.

Ele mede de todos os seus deuses a imobilidade dourada

No centro de seu ser-oceano, o tambor
do coração bate e permite seu ritmo soar por muito tempo.
Sobre suas pálpebras corre o colírio dos dias.

Ele guarda e solicita no cálice de suas mãos,
um fogo jorrado do traço das origens.
O enumerável tesouro de suas possibilidades, muitos
saberes palpitam como colares sobre seu peito.

Seu crâneo se arredonda de pensamentos, e seu dedos
se alongam de futuro nas fronteiras do ilimitado.
O espaço se ilumina ao reinado da sua voz.

O simples é complexo

A simplicidade dos fenômenos, das coisas, dos seres é uma possibilidade que estes nos oferecem de se apresentarem como unidade, como uma inteireza, uma integração de diferenças. Daí advém o desejo de determinarmos uma identidade, de definir e demarcar esse “inteiro” isolando assim suas possibilidades de desdobramentos, realizações e potencializações.

As ciências em geral usam essa decomposição, essa separação em indivisíveis para poder quantificar e analisar os fenômenos e só então reconstroem tudo novamente no sentido do interesse de cada ciência em particular.

O simples não é o simplório, de fácil apreensão, mas aquele que considera e compõe o diverso na unidade de seus sentidos. Etimologicamente, esta palavra vem do latim plicare, plica. Plica é a dobra, a prega, a face. A etimologia de "simples": sine, sem (ou, segundo outros, de sem, semel, única), sem plicas, sem dobras, sem pregas. Mas a simplicidade de que falamos aqui se contrapõe a esse sentido na medida que esta acolhe e remete a uma diversidade indeterminável de realizações. Existe uma complexidade da simplicidade: o ente, o ser não são o simples no sentido daquele que é ausente de dobras, ao contrário, sua simplicidade “reside em sua disposição de manter e exibir as dobras e os desdobramentos coexistindo” [Van de Beuque]. O simples articula a unidade com a diversidade: é o fenômeno do ser.

Segundo Van de Beuque, “uma coisa, um pensamento ou uma explicação simples é aquela que em sua unidade se faz fortemente unida, e para isso não é necessário que o diverso esteja ausente, mas apenas, que ele possa se manifestar de tal modo sintonizado que sua complexidade é apreendida como simplicidade.” O simples, então, protege ontologicamente na sua origem o aparecimento do ente/ser já que ele mantém a diversidade recolhida, abrigada preservando a particularidade que exibe a diferença.

Portanto é esse amarramento do ente/ser que protege a diversificação. Essa amarra não é uma camisa de força, uma fortaleza impenetrável, mas funciona como um tabuleiro de damas, onde os favos de uma colmeia ou o entremeado da teia da aranha acolhem e favorecem o que irá brotar. Essas pequenas aberturas do tecido que as aranhas ou as abelhas tecem são o lugar onde a vida coloca sua trama, semeando o futuro. “A colmeia (ou a teia) não representa uma armadura para a vida, mas a ligação que permite à sua fiação perdurar, protegendo o desfiar do crescimento que sempre a origina.” [Van de Beuque].

Texto inspirado no capítulo III do livro: Experiência do Nada como Princípio do Mundo, de Guy Van de Beuque, Rio de Janeiro. Mauad Editora, 2004.

 

TD e Saúde – Durante o ano de 2014 o CETRANS definiu que todos os Encontros TD realizados no último sábado de cada mês serão dedicados a assuntos referentes à saúde. Neste primeiro semestre, o temas abordados serão: Saúde e Transdisciplinaridade e Medicina Vibracional. Em breve enviaremos convites dos referidos eventos. Lembramos que os Encontros TD são gratuitos e se constituem uma excelente ocasião para trocas espontâneas entre os presentes sobre temas relevantes à TD.

VI Encontro Membros CETRANS – Em maio p.f. os membros do CETRANS se reunirão em Gonçalves, MG, para mais uma imersão formativa transdisciplinar. O tema deste ano é TD e a Questão da Metafísica. Desde março, os participantes iniciaram uma interação virtual sobre o tema de forma a criar um denominador comum que nutra as experimentações, reflexões e atividades programadas. Em abril, a exploração prévia será mais epistêmica. Espera-se que em maio e junho, a integração teoria e prática fique cada vez mais possível e evidente. Assim, o Encontro de Membros CETRANS se propõe ser um processo in vivo. No próximo BI traremos algumas impressões deste promissor encontro. As Unidades de Ação – UAs CETRANS esperam que este evento se realize com sucesso, mas sabem que isso só será possível com a participação criativa e engajada de seus membros.

 

Contar e Encantar: a Arte de Contar e Ouvir História

Cléo Busatto conduzirá esta oficina na Sala CETRANS em: 12/04 sábado das 9h às 18h e 13/04 domingo das 9h às 13h.

Esta atividade consistirá em reflexão e prática exercitada em três eixos – ritmo, intenção e imagens – que qualificam a técnica da autora, descrita no livro Contar e encantar, pequenos segredos da narrativa. São Paulo: Editora Vozes, 8ª edição. Esta obra tece considerações sobre o texto literário e a importância das histórias na formação do ser humano e, também, da narrativa como um caminho para aproximar pessoas.

Programa

A história como sujeito
O que contar e o porquê contar. O que o texto quer dizer pra mim.
A linguagem simbólica das histórias.
A qualidade literária do texto e seus gêneros. A estrutura do texto oral.
A memória como espaço mítico
A história do sujeito. A história da comunidade. As vivências sugeridas pela história.
Efeitos e afetos do texto na formação do sujeito. Identidade e noção de pertencimento.
A sabedoria do passado nas relações do presente.
A técnica como caminho
A transdisciplinaridade no ato de narrar. O ritmo, a intenção e a imagem.
Memorização e aquecimento. Como tornar o conto o meu conto. Formação de consciência ética e estética.

$: R$ 300,00, podendo ser dividido em 2 cheques. Vagas limitadas.
Para se inscrever, contate cetrans@cetrans.com.br

 

No dia 27 de fevereiro de 2014, René Barbier publicou um artigo denominado “Ciência da Educação: um degelo epistemológico?”. Nele, o autor comenta sobre o que ele chama de “um percurso de pensamento marcado por uma cegueira de conhecimento na França”. Nas considerações por ele tecidas refere-se à falta de conhecimento de muitos educadores dos avanços feitos na Educação nos últimos vinte últimos anos. Refere-se aqui ao “pensamento complexo (E.Morin), à Transdisciplinaridade (B. Nicolescu), às marcas arquetípicas e simbólicas (M. Eliade, G. Bachelard, G. Durand), à efervecência tribal e iniciática (M. Maffesoli), à meditação de consciência plena (Neurociências) ou de filosofia, incluindo a espiritualidade laica (A. Comte-Sponville, F. Ferry)”. Na fluidez de seu artigo o autor apresenta o quadro muito elucidativo que segue, e fala de modo simples e pontual o que para ele é pensamento complexo:

Escreve o autor:

O pensamento corporal e sensível é aquele que se enraíza na natureza por sua inscrição sensível. O corpo vibra e conhece por suas vias das quais estamos ainda longe de ter explorado.
O pensamento praxiológico é ligado à ação sem conhecer o projeto como finalidade.
O pensamento aristotélico, bem conhecido no ocidente, sustenta o principio da identidade da não-contradição e do terceiro excluído.
O pensamento dialético (hegeliano) coloca em relação três momentos de atividade do pensamento: a tese, antítese, síntese. No coração do pensamento complexo ele se transforma mais em pensamento dialógico múltiplo.
O pensamento analógico nos arrasta sem cessar rumo ao retumbar bachelariano e à transdução de Gilbert Simondon. Ele está a serviço de todas as construções mentais significativas.
O pensamento intuitivo corresponde para mim ao conhecimento do fundo nas formas por meios outros, meios que não sejam o uso da razão. A intuição é uma faculdade muito importante da experiência humana do conatus spinozista...
O pensamento meditativo sem objeto (nem conceito, nem imagem) se abre sobre a questão do vazio mediano (François Cheng) que não outra coisa senão o zen japonês denominado hishryo. Esta forma de pensamento é o não-pensar feito o objeto de hoje, dos terapeutas comportamentais ligados à "atenção plena" de Jon Kabat-Zinn.
O pensamento paradoxal se afirma da maneira de apreender o real sempre imprevisível e que coloca em xeque toda tentativa de reduzir a uma única dimensão. Ele é, por excelência, aquele dos marginais e dos poetas.
A meu ver, o “pensamento do esquecimento” chinês assinala principalmente o pensamento meditativo sem objeto em uma característica essencial de “disponibilidade” total do que é e advém sem cessar. Isto é o que Krishnamurti chama de atenção vigilante.

Neste artigo, muitas outras reflexões valiosas são feitas por Barbier sobre a espiritualidade laica, a espiritualidade contemporânea, o interesse da mestiçagem de culturas e o papel das culturas orientais para o pensamento ocidental.

Saiba mais: www.barbier-rd.nom.fr/journal/spip.php?article1816

 

UA Comunidade

Esta UA tem crescido consideravelmente no universo virtual, principalmente, no que se refere às atividades ligadas ao Facebook (http://www.facebook.com/groups/cetrans) que hoje conta com quase 250 internautas. Nesse espaço, membros CETRANS têm postado materiais que se referem a trabalhos realizados em conjunto e, também, a atividades individuais. Participantes recentes têm colaborado, efetivamente, com postagens de qualidade, o que tem possibilitado a rede crescer.

O espaço virtual www.cetrans.ning é um outro canal de divulgação de ações TD, com acesso facultativo sob inscrição, razão pela qual a UA Comunidade terá como objetivo ampliar sua abrangência em 2014.

Cartões virtuais que celebram aniversário dos membros CETRANS e aqueles que nos lembram de datas comemorativas têm aproximado a relação entre os participantes da comunidade CETRANS.

UA Comunicação

Neste verão a UA Comunicação esteve envolvida com a edição de vários vídeos-conferência da filósofa Mariana Thieriot-Loisel, membro do CETRANS residente em Montreal, que contribui online com seus conhecimentos para diversos eventos do CETRANS.

Foram editados 5 vídeos da série A Árvore do Saber-Aprender, que se inspiram no livro do mesmo nome, da educadora francesa Hélène Trocmé-Fabre, os vídeos Conhecendo suas emoções (em inglês e francês) baseados no livro de Brian Lynch M.D. Knowing Your Emotions - Ed. Interest Books CHICAGO USA 2010; e ainda vídeos de sensibilização para a Rede Transdisciplinar Intergeracional – Rede TIG.

Esta UA também tem contribuído na concepção e execução da linguagem visual e gráfica demandada pelo CETRANS.

UA Formação

O Mini Curso/Oficina: Educação sem Fronteiras, Transdisciplinaridade em Questão ocorreu na Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ, por ocasião do III Seminário de Educação a Distancia: Diálogos Transdisciplinares, nos dias 19 – 21 de fevereiro de 2014 e foi promovido pelo Núcleo de Educação a Distância – NeaD/UFSJ. Teve como mediadoras a representante do CETRANS professora Maria F de Mello e as professoras Gisele Boucherville e Sonia Haddad. Este minicurso representou a possibilidade de transposição das barreiras criadas pelo mundo moderno ao mundo da sensibilidade e trouxe aos participantes a perspectiva de entendimento de um dos pilares da metodologia Transdisciplinar – TD Níveis de Realidade.

O tema foi explorado tendo por base as noções: sensação de conceito e experiência do pensamento. No primeiro momento foram utilizadas diversas técnicas de Sensibilização para o que foi definido como Chamando o Corpo [contato com a respiração, massagem facial, alongamento]. Ao longo do processo, outras atividades foram realizadas: Chamando a Alma [através de músicas]; Percepção Relacional [minhas impressões e as do outro]; Belo [enguanto ato cognitivo que une os homens, explorado através de imagens e poemas].

Através de inúmeras dinâmicas, elucidou-se sobre a possibilidade de metacomunicar através de Metáforas – Motes – Metas e sobre o entendimento de Níveis de Realidade através de músicas, estabelecendo compreensão de Multirreferencialidade, Multidimensionalidade e de Transcendência na Imanência.

Em seguida discorreu-se sobre as cinco Flechas do Conhecimento: Disciplinaridade, Pluridisciplinaridade, Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade - TD.

Para exemplificar a oficina foram apresentados alguns casos de pragmatismo TD na educação: Escola Catavento de São João del-Rei, Projeto Ancora-SP e Escola da Ponte de Portugal.

UA Gestão

A UA Gestão tem-se ocupado em atualizar seus mecanismos organizacionais e estratégicos, de forma a melhor atender às necessidades das ações das UAs e àquelas prospectadas para o CETRANS em curto prazo [2014], médio prazo [2015 e 2016] e longo prazo [2017-2018]. Tem-se ocupado, também, em repensar e expressar gestão e governança, cada vez mais, de maneira inter e transdisciplinar.

O CETRANS conta agora com 60 membros em várias cidades do Brasil e no exterior. A UA Gestão tem a proposta de planejar, junto a seus membros, a realização de parcerias e eventuais modalidades de apresentações de atividades na Sala CETRANS, espaço acolhedor à disposição de seus membros. Para mais informações entrem em contato com: uagestao@cetrans.com.br

Para a UA Gestão, este Boletim Informativo – BI CETRANS Nº 20 – representa a consolidação de sua linha editorial, prioritariamente formativa, que se expressa através das seções: CETRANS Hoje, Ponto de Interesse e Espírito Transdisciplinar, onde aspectos epistemológicos, metodológicos e ontológicos emergem e se evidenciam.

UA Publicação

Publicações relevantes de conteúdo transdisciplinar:

  1. Basarab Nicolescu and Atila Ertas (Ed.). Transdisciplinary Education, Philosophy and Applications. Atlas Publishing, Lubbock, Texas, USA, 2014
  2. Ana Cecilia Espinosa Martines e Pascal Galvani. Transdisciplinariedad y formación universitaria: teorías y prácticas emergentes. Ceu Arkos, Mexico, 2014
  3. Adonis. Printemps arabes. Religion et révolution, La Différence, Paris, 2014.

Uma coletânea de textos escritos sobre os acontecimentos políticos da Primavera Árabe.

 

 

Jean Biès [1933-2014]: uma homenagem

O CETRANS expressa aqui sua profunda gratidão pela obra desta grande alma transdisciplinar. Jean Biès faleceu dia 11 de janeiro, grande perda para aqueles que buscam conhecimento Transdisciplinar. Biès nasceu em Bordeaux, França, mas grande parte de sua infância e adolescência foi vivida em Argel, tendo feito seus primeiros estudos dos clássicos na Universidade argelina e, posteriormente, na Sorbonne, em Paris.

Aos vinte anos descobriu a Philosophia Perennis através das obras de René Guénon e Frithjof Schuon. A Argélia também lhe revelou o Sufismo e lhe rendeu o gosto pelos estudos da Sabedoria do Oriente – o hinduísmo, em particular – o que resultou em inúmeros ensaios, poesias, relatos de viagem, testemunhos pessoais e artigos acadêmicos.

Em Montes Athos, na Grécia, em 1958, escreveu seu primeiro livro. Como professor de francês trabalhou na High School em Nay e, como professor de literatura grega, na Université de Pau et des Pays de l'Adour. Nessa época proferiu várias conferências na França, na Suíça, Bélgica e Venezuela.

Defendeu sua tese de doutorado em 1973, cujo tema foi a relação entre a literatura francesa e o pensamento Hindu – Littérature française et la Pensée Hindoue –, trabalho laureado com o Prix d'Asie pela Académie des Sciences d'Outre-Mer. Nesse mesmo ano viajou por toda a Índia.

Aposentado em 1993, pode dedicar todo seu tempo às suas ecléticas obras, cujos temas variam desde espiritualidade, viagens, ecologia, autobiografia, ensinamentos, alquimia, ortodoxia, Índia, filosofia grega, até poesias e entrevistas, cerca de 10.000 páginas de textos publicados e, também, os ainda não publicados. Biès, por ter sido influenciado pelas culturas do Oriente e do Ocidente e experimentado a luz constante da Philosophia Perennis, em um momento histórico especialmente crítico, fornece uma “chave para a vida”, a fim de dar alma para um mundo que se perdeu e de trabalhar na preparação urgente do futuro com o retorno ao espiritual.


São Paulo: Editora TRIOM, 2011

Transitude

Entre, através e além
o longe e o perto, o sem-Onde,
ontem e amanhã, o instante perene,
movimento e o eixo, a dança.
Entre, através e além
o vidro e o ar, a transparência,
sílaba e respiração, o sabor
o dito e o tu, a presença.
Entre, através e além
vazio e cheio, cumplicidade,
a ânfora e a argila, uma mão,
o ser e o nada, o sentido.

 

 

UA Comunicação – Vera Laporta
UA Comunidade – Mirian Menezes de Oliveira
UA Formação – Maria F. de Mello
UA Gestão – Dalva Alves
UA Publicação – Vitoria M. de Barros