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Só Respiração
                                                      Rumi


Nem cristão ou judeu ou mulçumano,
nem hindu, budista, sufi ou zen
de nenhuma religião,
ou sistema cultural! 

Não sou do leste ou do oeste.
Nem saído de fora do oceano ou de cima do chão.
Nem natural ou etéreo!
Nem composto de elementos, seguramente.
Eu não existo,
Não sou uma entidade, neste mundo ou no próximo!
Não descendo de Adão, certamente,
nem de qualquer história de origem.
Meu lugar é o sem lugar
um traço do sem traço.
Nem corpo ou alma.

Eu pertenço ao amado!
Vi os dois mundos como um
E aquele um clama e conhece primeiro, último, fora, dentro!
Só aquela respiração respirando
Humano
Sendo!

Eu pertenço ao amado!
Vi os dois mundos como um
E aquele um clama e conhece primeiro, último, fora, dentro!
Só aquela respiração respirando
Humano
Sendo!

 

O acontecimento marcante do CETRANS neste outono foi a realização VI Encontro de Membros, cujo tema foco foi Transdisciplinaridade & a Questão da Metafísica. Resumidamente, o que recebeu a denominação de <<Metafísica>> teve origem em um tipo específico de saber na época em que os filósofos pré-socráticos levantaram a pergunta pelo princípio da inteligibilidade da totalidade, o que chamavam de real. Muitos foram seus representantes entre os séculos VII e VI a. C. Este nome Metafísica, não foi usado pelos pré-socráticos, nem por Platão, mas sim por Aristóteles. Metafísica foi o título postumamente atribuído a um de seus livros, no qual ele apresenta, com rigor, suas ideias sobre este tema.

A nossa intenção no VI Encontro foi nos aproximarmos um pouco do pensamento de Platão e de Aristóteles em relação à Metafísica de forma a melhor compreender como estes filósofos marcaram toda a tradição do pensamento metafísico da era moderna, ou seja, da modernidade, do humanismo, da reforma protestante, da revolução cientifica. Muitos foram os ilustres representantes da modernidade, que se estendeu do século XV ao XIX. Nosso intento foi, também, pontuar como as propostas pós-modernas de Nietzsche e de Heidegger abordam a Metafísica e pensar em que medida, ambas visões, moderna e pós-moderna da Metafísica, dialogam com a TD.

O encontro foi constituído de quatro momentos: 1) uma interação virtual de duração de 2 meses onde o tema foi aproximado através de analogias, conceitos e sensações de conceitos; 2) um encontro presencial de 5 horas que proporcionou uma ampliação de referenciais cognitivos do que é a Metafísica, através de diálogos questionantes; 3) imersão de dois dias em Gonçalves, MG, a respeito dos pontos relevantes sobre o mundo sensível e inteligível no pensamento de Platão – Aristóteles – Heidegger e, também, a articulação deste tema com o mito de Isis – Osíris – Hórus; 4) ainda terá lugar no mês de junho um encontro de três horas com o filósofo Dr. Oswaldo Giacoia Jr. sobre o seu livro Heidegger Urgente – Introdução a um novo pensar.

Este VI Encontro de Membros do CETRANS mostra-se como um marco de grande relevância no processo coformativo transdisciplinar dos participantes, tanto pelo aprofundamento epistemológico, metodológico e ontológico como também pela convivência, troca prazerosa e fecunda entre todos.

 

POSSIBILIDADES TRANSD – Curso de Difusão Científica na AMORC São Paulo

O núcleo São Paulo da Universidade Rose-Croix Internacional (NSP-URCI) - Jurisdição de Língua Portuguesa, oferece desde abril deste ano à comunidade acadêmica e ao público em geral, um curso gratuito de Difusão Científica em Transdisciplinaridade: Possibilidades TransD – curso livre de extensão com 20 h, que objetiva qualificar os participantes para uma compreensão básica sobre as potencialidades teórico-práticas da Transdisciplinaridade, como abordagem facilitadora para o diálogo entre racionalidades.

Em abril, inaugurando o curso, palestrou Américo Sommerman, membro do CETRANS, sobre o tema “A Interdisciplinaridade e a Transdisciplinaridade como novas formas de conhecimento para articulação dos saberes”. A mesa final de debates desse dia contou com as participações de Luiz Eduardo Berni – coordenador do evento – e Maria F. de Mello (ambos membros do CETRANS) e da professora Ronilda Ribeiro (Instituto de Psicologia/USP). Em maio foi a vez da Dra. Augusta Thereza Alvarenga (Faculdade de Saúde Pública/USP) participar com a palestra “A Interdisciplinaridade e a Transdisciplinaridade: reflexões sobre a ciência de passar e transpassar fronteiras do conhecimento e desafios teórico-metodológicos”. Em 14 de junho o palestrante foi o Prof. Ubiratan D’Ambrósio (UNICAMP), que discorreu sobre tema: “A dimensão ético-filosófica da abordagem Transdisciplinar”. O curso é oferecido em nove módulos, um a cada mês, aos sábados, das 17 às 19 hs - de abril a dezembro de 2014.

Inscrições ainda poderão ser realizadas no link:
https://docs.google.com/forms/d/1K3lHpX_r95CXgeYtwhO55-FrodU1opjN_RJuHUS_Y8w/viewform

Saiba mais: http://levberni.wix.com/possibitransd 

 

LANÇAMENTO do livro Mitologia dos 4 Elementos

A autora, Cléo Busatto, contadora de histórias e membro do CETRANS, em 10 de maio, fez o lançamento de seu livro na Sala CETRANS e na Biblioteca Monteiro Lobato, em São Paulo. Seu livro também foi lançado em outras capitais brasileiras.

O livro (com DVD) nos leva a conhecer doze histórias inspiradas pelo fogo, pela terra, pela água e pelo ar. São narrativas míticas de diversos povos, como os Maori [da Nova Zelândia], os índios Kaiapó [do Brasil], os aborígenes australianos e Bosquímanos do deserto do Kalahari, os Tehuelche [da Patagônia], os ameríndios americanos e canadenses, entre outros.

 

No VI Encontro de Membros, dentre os pontos de interesse abordados, compartilhamos algumas teses filosóficas: Platão, postula que a verdadeira compreensão da realidade se efetiva por meio de conceitos e ideias, que apreendem o próprio ser de tudo. Aristóteles investiga o ente enquanto ente. Na obra Metafísica, Aristóteles, visa encontrar os princípios de inteligibilidade de tudo, isto é, criar uma ciência dos primeiros princípios que são comuns a todas as coisas e necessários para a sua compreensão. Nesta obra, ele constitui o epicentro do pensamento ocidental, do que reconhecemos como <<pensamento científico>>.

Através de Platão e Aristóteles, cristaliza-se a tese que o pensamento é o princípio do mundo. Nestas teses, a verdadeira compreensão da realidade se efetiva por meio dos conceitos e das ideias – emerge, assim, uma visão racional do universo, onde o real é conceitualmente estruturado, é racional. Esta é a visão metafísica, tanto grega, como moderna. Esta visão, nos séculos XIX e XX foi posta em questão. É o que foi chamado de <<destruição, desconstrução ou superação da metafísica>>.

Kant (1724-1804) aporta uma reflexão inovadora. Para ele a metafísica moderna não foi além do pensamento clássico do <<realismo conceitual>>. Kant afirma que se faz necessário uma reflexão sobre a relação pensamento e realidade, através de uma reflexão epistemológica, de como se dá o processo de conhecimento. Esta é uma reviravolta fundamental na natureza da filosofia. Ele propõe uma passagem da teoria do ente, uma ontologia, como proposta por Aristóteles, para uma teoria do conhecimento, uma epistemologia. E esta se torna o cerne da filosofia: a Metafísica passa a ser a tarefa básica da filosofia. Kant propõe um novo quadro categorial e é deste quadro que depende a estruturação categorial de nossa percepção. A filosofia passa a legitimar os conhecimentos empíricos; ela é uma reflexão epistemológica, uma reflexão das estruturas do sujeito, que possibilitam o conhecimento objetivamente válido dos fenômenos. O conhecimento para além da esfera do sensível seria, então, ilusório.

Nietzsche (1844-1900) confronta a metafísica ocidental grega como proposta pelos pensadores modernos. Ele aponta a esquizofrenia desta metafísica, e rebela-se contra a cisão entre o mundo “em si”, o mundo inteligível, e o mundo que se nos aparece.

Heidegger (1889-1976) retoma a questão proposta por Aristóteles – O que é o ente enquanto ente? Todavia, ele encontra para ela uma resposta diferente daquela dada por Aristóteles. Para respondê-la ele retoma a questão do sentido do ser, a partir de uma análise das estruturas da finitude e da temporalidade. Heidegger afirma que no Dasein [o ser-o-aí] se desvela o horizonte em que se manifesta o sentido do ser. Lembrando-se que o não é um topos, um lugar físico. O é <<epochal>> histórico.

Com Kant, Nietzsche e Heidegger torna-se evidente que ocorreu uma grande mudança na filosofia: as correntes filosóficas como rigidamente definidas desde seus primórdios foram questionadas. Este questionamento impulsionou uma nova orientação, uma nova postura face ao método filosófico, no que diz respeito ao rigor e clareza na análise das questões abordadas pela filosofia clássica.

Face a estas propostas, surge, no século XX, tanto na Europa como no Brasil, uma nova orientação filosófica: a filosofia analítica contemporânea e, com ela, as questões: Que temas metafísicos precisam ser abordados para atender a esta reviravolta na filosofia contemporânea? Que novos sistemas metafísicos analíticos darão conta desta nova visão? Neste contexto, como se coloca então a questão da TD & a Metafísica? Qual o lugar da TD nestes novos sistemas metafísicos analíticos?

Algumas Ref.:
GIACOIA JR, O. Heidegger Urgente – Introdução ao novo pensar. São Paulo: Editora Três Estrelas, 2013.
IMA GUIRE, G ; ALMEIDA , C. L. S. e OLIVEIRA, M. A. - Metafísica Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2007.
VAN DE BEUQUE, G. Experiência do Nada como Princípio do Mundo. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.

 

UA Comunidade

Registramos, aqui, alguns e-mails escritos pelos membros participantes do VI Encontro:

Deyse Deliberato: Olá querido grupo,
Agradeço a todos a oportunidade de compartilhar as aprendizagens e o encontro com pessoas tão especiais.
Gostaria de agradecer mais uma vez a organização, o carinho e o acolhimento sempre generoso das coordenadoras.
Um pedido para finalizar: as fotos lindas tiradas nos dias dos encontros podem ser compartilhadas conosco?

Lali Jurowsky: Turminha querida,
Quanto aprendo com vocês! Logos, cadeiridade, urgência, indigência, epifania, ousia, substância, essência, incompletude, "ser enquanto Ser”. Pinhão catado de fresco no chão, sequilhos com café, lareira crepitando na noite, sopa de abóbora com caldo de feijão, chocolatinhos deliciosos, livros saborosos. Tudo isso temperados com amor, carinho e bom humor! Mil pétalas de lótus de agradecimentos pela generosidade atenta da equipe organizadora, e por todas as trocas.

Maria Sylvia Vitalle: O encontro para mim foi maravilhoso!! Aprendi muito e sai de lá com a cabeça a mil, motivada para estudar mais, tentar contribuir mais com o tempo em que vivo. Obrigada pela generosidade do partilhamento e do acolhimento de todos vocês!


Poema do meu deus estraçalhado...
                                  
M. Sylvia Vitalle

Me envolver no corpo teu
E ficar assim...
Como se fosse um só.

E não sair da tua teia,
Ficar presa nesse nó.

E enquanto durar esta existência,
Antes de me tornar pó...
Sentir o peito cheio...
Desta emoção...

De não ser só...

 

Renata Riecken: Agradecida estou eu também por ter podido estar entre pessoas dedicadas e empenhadas, e pelo tema, razão do encontro ter sido contemplado com toda a seriedade... Frutos virão.
Organização nota 10!
Lugar delicioso. impecável!

Silvia Fichmann: Eu também agradeço a todos pelos dias maravilhosos que passamos: Maria, Vitoria, Vera e Dalva pelo empenho e carinho e aos membros que, com muita harmonia, contribuíram para que o encontro fosse tão agradável.
Obrigada, obrigada e obrigada.

Ideli Domingues: É mesmo! A gente sai se sentindo mais "ampla" com tudo que esse grupo da coordenação nos dá, tanto conhecimento DE ALMA, aqueles exercícios da Vera, que devem ter dado um trabalhão, e as coisas por trás dos bastidores que nem imaginamos e, ainda, nos enchem de presentes! Sabe de uma coisa? Vocês são D+! Grupo de participantes, meus "coleguinhas" queridos também, viu?!


UA Comunicação

Nesse período, esta UA, além das costumeiras atividades que lhe são próprias – cartões de celebração dos aniversário, mensagens e vídeos – dedicou-se, principalmente, à comunicação entre a coordenação e membros participantes do VI Encontro, bem como às atualizações do NING, Facebook e Site CETRANS. No Pós-Encontro fez a publicação dos registros fotográficos realizados em São Paulo e também em Gonçalves/MG, disponíveis em:

1ª parte – Sala CETRANS/ São Paulo
https://plus.google.com/photos/117009365113341190360/albums/6017366500737001057

2ª parte – Gonçalves/ MG
https://plus.google.com/photos/117009365113341190360/albums/6020358475496724561


UA Formação

ENCONTROS TD – Em maio, a Dra. Sandra de Freitas, engenheira quimica, psicanalista clínica e neurocientista cognitiva comportamental, falou na Sala CETRANS sobre o tema A resiliência através dos ritmos vitais. A partir de um olhar, que ela mesma denomina transgressor, a Dra. Sandra introduziu sua fala com a seguinte formulação: Qual a pergunta que não se cala? Esclarecendo de como a vida é sempre mais do que um protagonismo imediato, ela nos mostrou que para sustentarmos a vida precisamos de rítmo. Mantendo um diálogo gracioso e competente com os participantes, ela foi nos mostrando como, através de mundaças de ritmos, a partir de quarto elementos básicos - nutrição, excreção, movimento, repouso - nosso corpo pode se reconstruir em 28 dias. 


UA Gestão

Durante o outono a UA Gestão se ocupou da atualização organizacional do CETRANS e da formulação de novas estratégias, visando, cada vez mais, a aplicação representativa da inter e da transdisciplinaridade em assuntos que envolvam pessoas e recursos ambientais, materiais. Considerar a complexidade das relações interpessoais no âmbito profissional, de engajamento, de estruturação e de estudo, torna-se fundamental para a concepção, elaboração e efetivação de projetos e ações. É intenção desta UA pensar sobre governança no e do CETRANS.

Dentro desta proposta, no VI Encontro foi possível dar um primeiro passo nesta direção ao registrarmos sugestões valiosas dos participantes para encaminhamentos de atividades futuras.


UA Publicação

Indicações:

PAUL, Patrick. Meditações sobre o Tratado da Pedra Filosofal de Lambspring/Volume 1. São Paulo: Editora Polar, 2014.
“Este tratado é uma pequena obra clássica da tradição alquímica ocidental. Ela contém uma introdução de duas páginas, seguida de quinze gravuras e quinze textos. As ilustrações nos oferecem detalhes de uma incrível precisão para quem deseja compreender o sentido da Grande Obra espiritual”.

PONCZEK, Roberto Leon. Os Crocodilos Guardiães e a Biblioteca da Babilônia. Curitiba: Editora CRV, 2013.
Neste livro o autor nos mostra que “a ciência também pode ser tocada fora dos compassos metodológicos. Aliás, só uma ciência medíocre é que pode ser regulada por um método previsível e sistemático. A verdadeira ciência não se submete a algoritmos metodológicos, nem é uma simples conta de chegada às aplicações e aos interesses momentâneos,” afirma Ponczek. “Ela tem dimensões quase religiosas, e sua verdadeira inspiração, muitas vezes, encontra-se acima até da pura lógica formal, pairando nas camadas mais elevadas da intuição e da criatividade artística”.

VAN DE BEUQUE, Guy. Experiência do Nada como Princípio do Mundo. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.
A descoberta deste livro foi uma verdadeira epifania para nós do CETRANS: a celebração da sensibilidade, da presença viva de olhar para as coisas e da inteligência do autor que nos coloca, com muita beleza e autenticidade, uma nova forma de pensar que pode transformar nossa visão de mundo e, portanto, de transformar o mundo, pois quando nosso olhar muda, o mundo muda.

Beuque nos fala: “O olhar mergulha, sem o perceber, avançando no particular de seus detalhes, e quanto mais penetra em suas minúcias, mais o olhar se torna paisagem com a paisagem, até que já não exista observação, mas apenas comunhão. E em cada casinha, em cada arbusto, em cada saliência dos morros estará a casa, a árvore e a montanha... e, em-tudo, a paisagem.

Na paisagem, cada flor é toda flor – não se trata aqui da representação de uma idéa, mas de uma epifania: a celebração da flor através do modo como esta aqui se mostra. Mas cada flor é também a paisagem – e isso não apenas como algo que a inclua”. [p. 143]

 

Junho / dia 28: Encontro com o Prof. Oswaldo Giacoia Jr, Prof. Titular do Departamento de Filosofia da UNICAMP. Na ocasião serão tratadas questões relativas à Metafísica, o destino do homem, a desmesurada expansão das tecnociências e a urgência de mudança. Restrito a membros CETRANS.

Agosto / dia 23: Encontro com Dr. Paulo Bloise, psiquiatra do Núcleo Anthropos/UNIFESP . Neste encontro serão tratados temas relacionados ao trabalho desenvolvido pelo palestrante que estuda possibilidades de interação entre mente, corpo e espiritualidade através de uma troca disciplinar que busca a transdisciplinaridade.

Agosto / dia 30: Encontro com Dra. Sissy Fontes, neurocientista, fisioterapeuta. Nesse encontro serão abordadas questões relativas à fisioterapêutica das doenças neuromusculares, incluindo semiologia neurológica, doenças neuromusculares, práticas integrativas e complementares, saúde e espiritualidade.

Setembro / dia 20: Encontro com Dr. Fábio Bechelli, médico com formação em acupuntura e desenvolvimento humano. Nessa palestra - Uma visão Transdisciplinar do Humano - o Dr. Bechelli, a partir de uma atitude transdisciplinar, vai percorrer diversas possibilidades de conceitos de saúde, simbolicamente associadas às partes do corpo humano, e buscar o encontro para a integração destas visões e ir além delas.

 

Algumas Palavras Pinceladas que instigaram o diálogo no VI Encontro:

ESSÊNCIA/OUSIA: A noção de essência/ousia como equivalente a “o que era ser”, é mais ampla e não se aplica apenas às substâncias, mas contempla também os concomitantes e os assim chamados compostos acidentais.

Ousia (Οὐσία) é um substantivo da língua grega formado a partir do feminino do particípio presente do verbo "ser", εἶναι, einai. Significaria originariamente ser, existir, viver, ter, haver. A palavra é, por vezes, traduzida para o português como substância ou essência, devido à sua tradução para o latim como substantia ou essentia. É termo utilizado em Filosofia e em Teologia.

Filósofos gregos, como Platão e, principalmente Aristóteles, utilizaram esta palavra frequentemente nos seus discursos; é do uso dado por estes dois autores que decorre o atual significado atribuído correntemente à palavra, tanto em contexto filosófico como teológico.

Aristóteles usou o termo ousia ao criar filos/classes de animais, nos seus tratados de taxonomia biológica. Para este autor, o conceito de hypostasis (ou hipóstase) referia-se à existência de um ponto de vista lato, enquanto que ousia se referia a um espécime ou o individual das coisas ou seres. Para Aristóteles o termo ousía é fundamento no que diz respeito a outros gêneros de realidade dependente e, neste sentido, se opõe a acidentes (aquilo que sobrevive à). Ousía é, então, aquilo em virtude da qual um ente se constitui e é capaz de manter-se e ser aquilo que é. Neste caso, ousía tem ressonância com essência e tem relação com o conceito de identidade. Assim, a toda realidade que se apresenta em termos de unicidade e imutabilidade tem correlação com o predicado de identidade, de mesmidade. A ousía é então suporte de acidentes e essência permanente, idêntica a si mesmo.

Martin Heidegger, mais tarde, defendeu que o significado original da palavra ousia se perdeu na sua tradução do grego para o latim e, consequentemente, para as línguas modernas. Heidegger utilizou, ainda, em sua obra o termo binomial parousia - apousia para significar presença-ausência. Usou também o termo hypostasis para significar existência.

EPIFANIA: Epifania significa aparição, manifestação e vem do grego “epiphanéia.” Pode ter um sentido religioso ou filosófico: a) no sentido religioso significa uma manifestação divina, por exemplo, quando houve a apresentação de Jesus Cristo ao mundo, através da chegada dos Reis Magos trazendo seus presentes; b) no sentido filosófico define uma sensação profunda de realização no sentido de compreender a essência das coisas, tudo que pode estar no âmago das coisas ou das pessoas, isto é, o de poder considerar que a partir de agora sente como solucionado, completado, aquilo que estava tão difícil de conseguir.

Para os místicos, epifania pode ser um pensamento iluminado, uma inspiração que parece ser coisa de Deus, como que, somente ele seria capaz de pensar tal coisa.

Muitos religiosos, filósofos, místicos, escritores, cientistas - James Joyce, Ibin’Arabi, Maomé, Buda, dentre outros – contam, através de relatos históricos, que passaram por algumas experiências epifânicas, assim como Moisés, que narra na Bíblia as aparições de Deus.

FALCOARIA: Falcoaria é a arte muito antiga e tradicional de adestrar pássaros de caça que remonta ao segundo milênio antes de Cristo, ainda que só existam registros a partir do ano 400 a.C.. Ela apareceu em lugares diferentes, no extremo Oriente com os nômades da China e da Mongólia por volta do século VII a.C. e, no Médio Oriente onde as tribos árabes tinham uma tradição desta arte, pois o falcão era o pássaro mais usado por suas características peculiares. Assim, atingiu seu auge como instituição na sociedade feudal medieval tanto na Europa cristã quanto no Islã entre os séculos VI e XVII. Nesta época, grandes tratados de falcoaria foram escritos ganhando conteúdos simbólicos bem definidos. Ela passou então a ser concebida em três níveis diferentes: como arte da caça ao falcão; no nível político, como a estratégia da arte de governar; e, na via mística, como Arte da busca espiritual. O conteúdo místico que a arte da falcoaria adquiriu nos séculos XI, XII e XIII se deve aos ensinamentos de Avicena, Suhravardî, Rumi e Ibn’ Arabî.

LOGOS: Segundo Heidegger, a palavra logos deriva do verbo grego legein que significa juntar no sentido do juntar originário do Ser. Esse juntar/reunir tem o caráter básico do abrir-se, do revelar-se. Legein é, então, confrontado clara e aguçadamente com cobrir-se e velar, o seu contrário.

Tanto em Heráclito quanto em Platão, Logos tem o caráter do que revela e, posteriormente com Aristóteles ganha o significado de lógica e palavra. Desde sua origem as relações entre logos, aletheia, phusis e idea têm sido escondidas, incompreendidas. Assim, na sua origem, o logos aparece como o juntar que revela. É com esse juntar, com esse encaixe no sentido de phusis que aparece a necessidade de se instaurar a essência da humanidade histórica.

Heidegger quer mostrar três ideias:

  • A apreensão não é um mero processo, mas uma decisão;
  • Apreensão tem uma unidade essencial interna com logos. Logos é uma urgência;
  • Logos fundamenta a essência da linguagem. Como tal, logos é uma luta e é o fundamento dos fundamentos do Dasein histórico humano no meio dos entes como um todo.

Heidegger diz:

  • Apreensão é uma tomada de posição para receber o aparecimento dos entes. É um ato de violência que força sair do dia a dia, do costumeiro, do usual. Não é um comportamento humano arbitrário, não é um processo mental que de repente ocorre, não é o uso da faculdade espiritual humana. Não acontece automaticamente.
  • Apreensão e logos são a necessidade de juntar, o juntar que pertence à apreensão. Ambas, apreensão e logos precisam acontecer para o bem do Ser.
  • Juntar significa aqui agarrar aquele que está disperso no inconstante, agarrar de novo quando aquele está mergulhado na confusão e no parecer ser. Mas este juntar, que é ainda retornar, pode ser cumprido somente por virtude do juntar que, como um voltar para, puxa os entes juntos no juntar do seu próprio Ser.

HEIDEGGER, Martin. Introduction to Metaphysics. New Haven & London: Yale University Press, 2000.

 

 

UA Comunicação – Vera Lucia Laporta
UA Comunidade – Mirian Menezes de Oliveira
UA Formação – Maria F. de Mello
UA Gestão – Dalva Alves
UA Publicação – Vitoria M. de Barros