Cetrans

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Pintura: Nicholas K. Roerich (1874 – 1947)

Mais radiante que o sol.

Mais puro que a neve,

Mais sutil que o éter

é o Si-mesmo, o espírito dentro de nós.

Nós somos o Si-mesmo, o Si-mesmo somos nós.

 

Na estação de primavera, dentre as importantes atividades do CETRANS, destacamos a realização da Assembleia Geral Ordinária, que neste ano de 2014 foi realizada no dia 29/11. Os assuntos apresentados e discutidos nesta Assembleia foram:

Referentes a 2014: Realizações das UAs; Realizações de Membros; Orçamento; Parâmetros Normativos; Votação para Coordenador UA Comunidade.

Referentes a 2015: UAs/Enação e Cognição Encarnada; Calendário Sazonal; Tendências TD; Propostas de Membros – Campos Viventes.

Nesta ocasião foi distribuído aos participantes um libreto, em versão impressa, que serviu de base para as discussões, cuja versão virtual pode ser acessada no link http://goo.gl/DAijFh. Era intenção das UAs, a partir dos itens constantes do libreto, propiciar a participação ativa dos membros presentes sobre os assuntos apresentados, o que ocorreu com sucesso.

Dentre as questões que fizeram parte do libreto, vale salientar três pontos que estimularam positivamente a interação:

  1. Fazemos o que somos – Quem? O quê? Quando?
  2. Comunidade não é um grupo de pessoas, não é um lugar; comunidade é um estado de consciência.
  3. O quê? Em quê? Como? Escolho: compreender; cooperar; coparticipar neste processo evolutivo ITD do CETRANS?

Outro ponto tratado foi a finalização do exercício de Mirian Menezes de Oliveira, como coordenadora da UA Comunidade, função que exerceu em 2013 e 2014. Heloisa Helena Steffen, membro ativo do CETRANS e estudiosa da Transdisciplinaridade, assumiu coordenação desta UA para o biênio 2015/2016.

Vale ressaltar a importância da presença física dos coordenadores nas reuniões das UAs, uma vez que nestes encontros têm lugar um processo formativo para os coordenadores, maior afinação entre os mesmos e ações prospectadas, a operacionalização das atividade em curso e a possibilidade de cada coordenador ser ajudado pelos seus pares a pensar e a realizar sua própria função.

 

No mês de outubro Maria F. de Mello e Vitoria M. de Barros visitaram a Comunidade de Ética Vivente – CEV – localizada na Città della Pieve www.comunitadieticavivente.org – na Úmbria, Itália, e participaram de um seminário intitulado “Da Consciência Individual à Consciência de Grupo, dirigido por Marina Bernardi. Dentre vários temas, o trabalho exemplar desenvolvido pela CEV, de cunho eminentemente transdisciplinar, abarca atividades relativas à: Arte e Consciência; Formação de Crianças e Jovens; Meditação; Psicologia de Base e Avançada; Relação com o Corpo; Experiência de Comunidade; Atividades Culturais e Práticas Médicas para a cura integral do Ser Humano. Certamente a CEV é uma referência de excelência do Pragmatismo TD.

Possibilidades TransD – O Curso de Difusão Científica promovido pela AMORC / São Paulo, e coordenado por Luis Eduardo V. Berni, teve continuidade nesta primavera com os seguintes módulos e palestrantes:

27/09 Módulo VII – A Transdisciplinaridade e o Diálogo com o Esoterismo Ocidental: Dr. Fábio Mendia;

11/10 Módulo VIII – Transdisciplinaridade como Mediadora entre os Saberes Científicos e Tradicionais em Saúde: Profª Dra. Renata Paes de Barros;

08/11 Módulo IX – Teoria do Caos e Transdisciplinaridade aplicadas à Medicina: Prof. Dr. Moacir Fernandes de Godoy;

13/12 Módulo X – Pragmatismo e Transdisciplinaridade: Profª Maria F. de Mello e Profª Vitória M. de Barros.


Colóquio Internacional – Colóquio Internacional realizado em Lisboa, de 11 a 13 de dezembro de 2014: A Inter e a Transdisciplinaridade nas Artes Performáticas e Audiovisuais. Na ocasião, Bernard Carmona proferiu uma palestra sobre o tema: A Arte do Debate no Budismo Tibetano. (Tradução para o português de Maria F. de Mello; leitura de Rodrigo C. de Paula).

O vídeo pode ser visto no link https://www.youtube.com/watch?v=2eLxUOAp1_I.

Prof. Ubiratan D 'Ambrósio – Homenagem

Amigos, alunos e orientandos do Prof. Ubiratan D’Ambrósio, vindos de diferentes partes do mundo, formaram o Grupo de Amigos do Ubiratan – o GAU – e reuniram-se para lhe prestar uma homenagem, no Club Homs, em São Paulo, no dia 06 de dezembro. O professor, um importante cientista brasileiro, foi um dos signatários da Mensagem de Vila Velha/ Vitória/2005, da Carta da Transdisciplinaridade/1994 e da Declaração de Veneza/1986, documentos estes considerados marcos do pensamento transdisciplinar.

Celebraram presencialmente esta homenagem ao professor, os membros do CETRANS: Dalva Alves, Fernando Bignardi e Francisco P. Della Zuana. Na ocasião foi transmitido ao professor, emérito colaborador do CETRANS desde 1998, o carinho, admiração e gratidão, em nome de outros membros desta comunidade.

 

Alma de grupo?

Se consideramos a noção de Níveis de Realidade, a formação de um grupo TD em muito transcende a perspectiva física que o caracteriza. Esta mesma ideia se aplica quando passamos da esfera de um grupo para a esfera de uma comunidade. Referimo-nos aqui, especificamente, ao que nomeamos Comunidade CETRANS. Nesta visão, um grupo ou uma comunidade, não é um conjunto de pessoas, não é um lugar, mas um estado de consciência.

Entendido desta maneira, sem em nenhum momento subestimarmos a configuração física de um dado grupo ou de uma comunidade, abrimos espaço-tempo e disposição interior para cultivarmos o que poderíamos chamar de alma de grupo, ou seja, aquilo que anima um agrupamento de pessoas. Tradicionalmente, alguns nomes foram atribuídos a esses agrupamentos, como por exemplo: homens de boa vontade, fraternidade em espírito, egrégora. É a partir da presença das energias físicas, psíquicas, mentais, emocionais e anímicas dos participantes, que são reconhecidas e valorizadas as capacidades particulares, as potencialidades criativas e enativas de cada um. Além disso, é também cultivada, nesses agrupamentos, a disposição de cada participante em ajudar o outro a fazer a sua parte, a realizar seus poderes criativos e sua mais alta espiritualidade.

Assim sendo, vai emergindo, o Si-mesmo do grupo, a alma de grupo, começando por participantes inspirados pela mesma força vivente. Esta força é maior do que uma meta imediata específica a ser atingida. Um grupo, assim pensado e concebido, abre-se para um campo de coerência, ou seja, para o exercício de uma qualidade relacional nos diferentes níveis de realidade. Quanto mais livre, respeitosa, autoposicionada e propositiva a qualidade da relação dos membros do grupo, mais o evento a ser realizado é nutrido por uma qualidade de afinação intencional que transcende as pequenas subjetividades. Desta forma, sem esconder, temer ou evitar conflitos, mas com vistas sempre a um contínuo ajuste e afinação, uma bela música pode ser ouvida, transcrita e disponibilizada para além do círculo que a concebeu, gerou e efetivou. Este exercício é um Campo Vivente que possibilita a realização harmoniosa de força-forma, forma-força, tendo como elemento propulsor uma relação preciosa, poderosa e servil.

Aqui não se trata de um simples processo de causa-efeito. A alma de grupo transcende o universo das coisas visíveis e tangíveis, ainda que nelas se expresse. Nas tradições e na filosofia isso é nomeado transcendência na imanência. Processos formativos TD ao se abrirem para a noção de alma de grupo, e forem além da formação competente de equipes disciplinares, multi, inter e trans, certamente aportarão um ganho qualitativo imensurável à ação que desenvolvem. Pensamento, sentimento, lucidez e contemplação é o que anima, inspira, alimenta a alma de grupo. Isto permite que intuições finas emerjam, que novas visões se apresentem, que antecipações se clarifiquem. E então, que a força para a cognição encarnada venha a existir.

Um grupo TD ou uma comunidade TD reconhece que tudo isto se dá em movimento e está sempre sujeito a evolução, involução e mortes com ou sem ressurreição. Todavia, não nos esqueçamos que o vivido sempre deixará seu rastro, seu lastro e seu lustre.

 

UA Comunicação

Nesta primavera a UA Comunicação esteve voltada principalmente para a divulgação dos Encontros TD do CETRANS e da Assembleia Geral de 2014, tanto por e-mail, quanto através do Facebook e NING e também para o registro dessas atividades em som e imagem.

Cabe mencionar que o mailing CETRANS teve um aumento considerável de nomes devido à afluência de convidados para os eventos – sejam eles ligados aos palestrantes, ou interessados nos temas referentes à TD & Saúde. Algumas dessas pessoas, ao tomarem conhecimento do trabalho do CETRANS, demonstraram interesse em se tornarem membros efetivos.

 

UA Comunidade

Na Assembleia/2014 foi sugerido e apresentado à Comunidade CETRANS uma série de temas que têm fomentado pesquisa e estudo TD no âmbito internacional e que poderiam vir a ser foco de estudo individual ou parceria entre membros. Dentre estes temas salientamos: TD & a questão da metafísica; TD & metacognição; TD & arte; TD meditação & o sagrado; TD & prática da metáfora; Vida grupal como campo de aprendência; Alma de grupo; TD & sociedade civil; TD economia & sustentabilidade; TD nos cuidados integrativos; Metodologia inter e transdisciplinar; ITD & gestão; TD cultura, linguagens & epistemologia; TD plasticidade & metaplasticidade.

Se algum destes temas, ou outros que vierem a ser propostos por membros, forem explorados durante o calendário sazonal CETRANS, eles serão apresentados, durante o inverno/2015, à Comunidade CETRANS, em data a ser divulgada.

 

UA Formação

É com muita alegria que as UAs CETRANS reconhecem a pertinência de terem os Encontros TD de 2014 focalizado o tema-chave: TD & Saúde. Os vários aspectos abordados por diferentes profissionais foram muito bem recebidos pelos participantes e permitiram que implicações complexas fossem melhor elucidadas na e para a comunidade CETRANS. Nesta primavera, fechando o ciclo anual, contamos com a presença dos palestrantes apresentados a seguir. Estes, como aqueles que os antecederam, nos deixaram uma contribuição significativa a partir de suas abordagens.

Marcelo Marcos Piva Demarzo – Workshop introdutório sobre Mindfulness aplicado à Saúde.

Em 06/12, Marcelo Demarzo, Prof. Dr. da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, apresentou o Programa “Mente Aberta – Mindfulness de Promoção da Saúde”, que tem por meta promover e divulgar a formação profissional e pesquisas científicas voltadas à promoção da saúde. Marcelo deixou claro que, embora as práticas de mindfulness tenham sido inspiradas no budismo, o programa por ele apresentado é laico, porém, inspirador de autoconhecimento e autoconsciência.

O tema Mindfulness foi explorado a partir dos seguintes aspectos: estado mental ou psicológico; constructo e traço psicológico; conjunto de práticas; programas estruturados no contexto da saúde, da educação e das organizações. O objetivo do Programa Mente Aberta é formar profissionais interessados em outras formas de cuidar e promover saúde, além das convencionais, sobretudo considerando que o fundamental é tomar consciência da própria atenção em relação ao momento presente e a tudo o que surja enquanto surja.

Durante o encontro foram realizadas algumas práticas que suscitaram nos presentes grande interesse para dar continuidade ao workshop, ampliar conhecimentos e incorporá-los em seu cotidiano.

Denise Chaer – Novos Urbanos: discutindo o futuro das cidades a partir das relações humanas.

Em 22/11 Denise, que atuou na área de identidade corporativa e que, cada vez mais, se dedica a questões sociais nas cidades, trouxe para o CETRANS, a partir do tema Novos Urbanos, uma reflexão sobre a Teoria U de Otto Scharmer, principalmente no que se refere aos quatro níveis de mudança por ele proposto, a saber: 1) mudança causa-efeito; 2) mudança estrutural; 3) mudança de crenças e valores; 4) mudanças na fonte (aquelas que alimentam as mudanças do item 3).

Discorrendo sobre a urbanidade emergente, Denise salientou os questionamentos necessários para adentrar este tema, tais como: o sentido da vida, quem? e o quê? faz a cidade em que vivemos, novas relações de consumo, de estilo de vida e, também, questões que dizem respeito a novas dimensões da interação social. No que tange a interação social, ela elucidou as práticas relacionadas a ter bens sociais versus possuí-los; uma tendência que começa a ganhar corpo entre as populações jovens. A questão crucial aberta e debatida foi: por que fazemos coletivamente algo que não queremos individualmente?

Celia Regina Barollo – O Paradoxo da Medicina Atual: uma visão transdisciplinar.

Na palestra realizada em 01/11, pela médica homeopata Célia, foi apresentada uma visão sistêmica do planeta Terra e do Ser Humano e uma crítica a algumas práticas da medicina atual. Seu objetivo maior foi promover um convite à reflexão e motivar os participantes à tomada de consciência de si em relação à própria saúde e à própria vida como um todo.

A Dra. Célia ressaltou a importância de se observar o que tem sido feito para manter a qualidade de vida, lembrando que, a maioria dos procedimentos em saúde tem um custo altíssimo, tanto para os cofres públicos quanto para os indivíduos, mostrando, assim, o que ela nomeou de paradoxo da medicina atual.

Fabio Bechelli – Uma Visão Transdisciplinar do Humano.

Em 20/09 o Dr. Fábio, médico clínico especialista em Acupuntura e habilitado em estratégias biomoleculares, abordou, do ponto de vista médico, uma visão transdisciplinar do humano. O pilar da metodologia TD Níveis de Realidade e a questão da subjetividade constituem aspectos nucleares para nos aproximarmos da realidade médico/paciente.

A visão antropológica central para esta abordagem é tratar simultaneamente a densidade bioquímica e a sutileza da consciência nos processos de cura.

O Dr. Bechelli falou dos nutrientes essenciais à vida humana – água, proteína, minerais, gorduras; das matrizes celulares ligadas à eliminação e à acumulação e também do quanto as células dependem da qualidade dessas matrizes.

Dentre os pontos apresentados que geraram grande interesse, salientamos: as questões relacionadas à adaptação funcional e adaptação disfuncional; stress ambiental; a criação das doenças; a necessidade de otimizar o tratamento para a saúde, de forma a favorecer longevidade saudável e criativa.

Antecipamos que no próximo ano um tema único permeará os encontros TD do CETRANS e será anunciado no início de 2015.

 

UA Gestão

O foco prioritário das atividades da UA Gestão, nesta estação, foi a revisão e consolidação dos dados econômico/financeiro/estratégico, visando à prestação de contas do CETRANS na Assembleia/2014.

Nesse período, foi também discutida a validade da constituição de um conselho consultivo informal para o CETRANS e suas possíveis atribuições. Ainda que minimamente, já foram pensados e registados alguns itens referentes ao perfil, regime e estratégias do mesmo.

Em 2014 foi acordado que o Calendário Anual CETRANS será sazonal e terá inicio no primeiro dia de Primavera.


UA Publicação

Publicações e lançamentos recentes:

Formação Integrada para Sustentabilidade — Experiência Inter e Transdisciplinar em Escola de Negócios. Maria F. de Mello, Ideli Domingues, Erica Gallucci (organizadoras); Adriana Caccuri (designer). São Paulo: Programa de Gestão Pública e Cidadania — PGPC, 2014. Esta Obra Livro registra cinco anos de uma experiência de natureza TD, realizada em uma disciplina eletiva, que congregou alunos de Administração Pública e Privada, Direito e Economia da Fundação Getúlio Vargas, poderá ser adquirida na Livraria da própria FGV pelo telefone 3799 5541.

Iniciação dos Cavaleiros e a Iniciação dos Reis. Gérard de Sorval. São Paulo: Editora Polar, 2014.

Meditações sobre o Pequeno Tratado da Pedra Filosofal de Lambspring. Patrick Paul. São Paulo: Editora Polar, 2014.

Transdisciplinary Education, Philosophy & Applications tendo como editores Basarab Nicolescu e Atila Ertas. Texas,USA: THE ATLAS Publishing, 2014.

Canal de TVWEB: http://www.salamandre-tv.net. Televisão é direta e gratuita para os assinantes da BaglisTV www.baglis.tv.

Os assinantes poderão fazer intervenções e colocar questões aos convidados através da tecnologia Google Hangout. Idioma: Francês.

 

Recesso de 21/12/2014 até 11/01/2015. Início das atividades internas em 12/01.

Data Tema
04/03 quarta-feira
19:30 às 21:30
Conversas TD:
Comunidade e Alma de Grupo
28/03 sábado
9:00 às 12:30
Encontro TD:
O Símbolo e o Sagrado na Arquitetura

 

Falando de símbolo

O símbolo é, então, uma espécie de instância mediadora entre a incompatibilidade do consciente e do inconsciente, um autêntico mediador entre o oculto e o revelado.
J. Jacobi em Complexo, Arquétipo e Símbolo


Ele (o símbolo) não é nem abstrato nem concreto, nem racional nem irracional, nem real nem irreal; é sempre ambos.
Carl G. Jung, em Psicologia e Alquimia


Celebrações de fim de ano: concretude ou símbolo? *

É inegável a importância do símbolo na história do Homem. Sua característica analógica fala sobre a própria dinâmica humana da apreensão da realidade. Não podemos esquecer que a linguagem – seja falada ou escrita – constitui, ela mesma, um processo simbólico, onde sons e fonemas são codificados e compartilhados pelos membros de um grupo e uma comunidade, para que a comunicação possa se estabelecer. A diversidade de leitura do símbolo fica por conta do universo de experiências de cada povo, embora se mantenha uma essência comum – a sua força arquetípica – (...) Cada grupo humano ‘secciona’ a realidade de forma diferente, pois tem necessidades diferentes diante de cenários naturais também diversos. De qualquer forma, o símbolo sempre expressa a vontade do homem entender o mundo que o cerca e se preparar para a luta pela sobrevivência.

A capacidade humana de perceber e agir sobre o ambiente é o seu grande diferencial diante dos animais, que têm de se submeter de uma forma mais passiva às condições do seu habitat. A sobrevivência animal depende exclusivamente do grau de sofisticação dos seus instintos, enquanto que o homem, pela inteligência e memória, exerce uma ação transformadora sobre o ambiente que, a partir do momento que é experimentada e consolidada, pode ser transmitida aos seus descendentes, num processo cumulativo. O símbolo vai mais uma vez funcionar como a ponte que permite a perpetuação do que foi aprendido, criando um código para que a transmissão se estabeleça. Citando Jolande Jacobi:

"Essa qualidade mediadora e ‘lançadora de pontes’ do símbolo pode ser literalmente considerada um dos equipamentos mais engenhosos e importantes da 'administração' psíquica. É que ela forma, diante do caráter fracionário da psique e da constante ameaça que isso representa para a sua estrutura unitária, o único contrapeso verdadeiro e preservador da saúde que a natureza pode enfrentar com esperança de sucesso."

O símbolo funciona como uma espécie de ‘tradução’ do arquétipo para o consciente. É uma ‘imagem analógica’ do evento físico, que é traduzido em ‘imagens’, a saber, em formas arquetípicas. Esta é uma capacidade inerente à estrutura psíquica. O símbolo é acessado sempre que o consciente precisa ‘religar-se’ com uma experiência primária da humanidade, quando o homem sente necessidade de colocar uma compreensão simbólica ao lado da compreensão realista do mundo e suas vivências. Jolande Jacobi apresenta os símbolos como “parábolas do imperecível”, mas manifestados no âmbito do temporal, já que ambos fundem-se numa unidade de sentido. Quando o conteúdo de um símbolo se esgota, isto significa que o mistério que ele continha tornou-se inteiramente consciente.

O símbolo é a maior expressão da capacidade humana de transcender o seu lado animal, instintivo e da sua aproximação com o lado mágico e fértil inserido em todo e qualquer processo de criação.

Ele é a ponte que liga nossa razão à nossa alma, passando por terrenos conhecidos e desconhecidos, pela luz e pelas sombras, unindo o passado, o presente e o eterno. Ele é a grande parábola da existência. Ele nunca é inventado; seu nascimento é espontâneo e misterioso, e fala do lado oculto dessa ‘caixa preta’ interna onde surge a vida.

... uma alegoria de Sohravardi (1155-1191): A poupa e as corujas.

A poupa, conhecida por sua visão aguda, caiu à noite entre as corujas, conhecidas por serem cegas durante o dia. Quando de manhã estava pronta para partir, as corujas disseram:

"Pobre coitada, que coisa essa inacreditável que você está fazendo? Alguém pode viajar de dia?"

"Estranho" respondeu a poupa. "Todos os movimentos acontecem de dia." "Você está louca", disseram as corujas. "De dia, com a obscuridade que o sol lança sobre a escuridão da noite, como pode alguém ver?"

"É exatamente ao contrário", disse a poupa. "Todas as luzes do mundo dependem da luz do sol, e dele é que tudo que é acendido deriva seu brilho. Isso se chama o olho do sol, porque é a fonte da luz."

Mas as corujas desafiaram sua lógica perguntado-lhe por que ninguém podia ver de dia.

"Não pense que por analogia com vocês todos são como vocês. Todos os demais vêm de dia. Olhem-me. Olhem-me, eu estou no mundo visível, observável."

Quando as corujas ouviram isso, elas gritaram e fizeram uma grande confusão e disseram umas às outras:

"Este pássaro fala de que é possível ver durante o dia, quando se presume que há cegueira."

E, assim, puseram a atacar a poupa com seus bicos e garras. Elas a amaldiçoaram e a chamaram de "aquela que vê de dia", uma vez que a cegueira diurna era uma virtude entre elas.

"Se você não reconsiderar, serás morta."

Pensou a poupa: "Se eu não me fingir de cega, elas me matarão."

Inspirada pela máxima: "Fale às pessoas de acordo com suas inteligências", ela fechou os olhos e disse:

"Vejam! Fiquei cega como vocês!"

Assim as corujas pararam de bater nela. E assim, até a hora da partida, ela fingiu cegueira, dizendo:

Muitas vezes eu disse que revelaria tudo que é segredo no mundo temporal. Mas, por medo da lâmina e do desejo de salvar minha pele (eu selei) meus lábios com mil pregos.

A poupa suspirou profundamente e disse:

"Há um vasto conhecimento dentro de mim, mas se eu fosse irradiá-lo, eu seria morta."

* Trecho extraído de artigos escritos por Maria F. de Mello e Vitória M. de Barros para o livro Educação e Transdisciplinaridade III

**Alegoria traduzida da versão em inglês de THACKSTON, 1999: 84-85)


 

 

 

UA Comunicação – Vera Lucia Laporta
UA Comunidade – Mirian Menezes de Oliveira
UA Formação – Maria F. de Mello
UA Gestão – Dalva Alves
UA Publicação – Vitoria M. de Barros