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Manuel Espinosa (1912−2006)

 

 CETRANS HOJE 

Cultura Transdisciplinar foi o tema escolhido pelo CETRANS para ser abordado no ano de 2016. Na verdade, iniciamos a aproximação a esse tema no II Encontro Catalisador realizado em 2001. Foi nessa ocasião que Agusti Nicolau Coll, integrante efetivo do Instituto Intercultural de Barcelona, então dirigido por Raimon Panikkar, trouxe para discussão a questão que gerou seu exemplar artigo "As culturas não são disciplinas", publicado posteriormente pela UNESCO e TRIOM no livro Educação e Transdisciplinaridade II.

Como escreveu Coll, há três reducionismos que precisam ser ultrapassados quando se trata de Cultura, são eles:

  • Reducionismo artístico e folclórico
  • Reducionismo intelectual
  • Reducionismo dos valores e crenças

Ultrapassar esses reducionismos também se aplica quando especificamente tratamos de Cultura TD. Mas qual é nossa proposta para revisitar este tema e trazer agora esta reflexão para o CETRANS? No momento, podermos adiantar que é nossa intenção esclarecer e alargar os horizontes do pensar e do fazer TD. A incursão ao tema se fará através de palestras, cursos, sessões espontâneas de diálogo, sugestão bibliográfica, disponibilização de material em nossos veículos virtuais e apresentação de projetos que já incorporem esta visão. Nestas diversas formas de troca, Cultura TD será vista sobre o prisma: Filosofia e Ciência; Tradição Sapiencial; Metateoria; Teoria da Antecipação; Gestão TD; Prática Meditativa; Comunicação TD; Interface e Diálogo Consciente/Inconsciente.

Esperamos que a interação presencial e virtual com todos aqueles interessados neste tema produza uma fertilização cruzada que traga benefícios individuais e coletivos.

 

 PALAVRA DO LEITOR 

Leeward Andrada Wang | Membro CETRANS
Em 2012 o coreano Byung-Chul Han publica A Sociedade do Cansaço onde explora a sutil interação entre o discurso social e biológico para anunciar uma mudança de paradigma profunda, discreta e em curso. De acordo com o filósofo:

Toda época tem as suas enfermidades emblemáticas. Assim, existe uma época bacterial, que, no entanto, chega ao fim com a descoberta dos antibióticos. Apesar do medo manifesto de pandemia gripal, atualmente não vivemos uma época viral. Deixamo-la para atrás graças à técnica imunológica. O começo do século XXI, de um ponto de vista patológico, não seria nem bacterial, nem viral, mas neuronal.

Segundo Han, o que nos adoece não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como novo mandato da sociedade de trabalho. Afirma ele:

O sujeito do desempenho se abandona à liberdade obrigada ou à livre obrigação de maximizar o seu desempenho. O excesso de trabalho se aprofunda e se converte em auto exploração. Esta é muito mais eficaz do que a exploração por outros, pois é acompanhada por um sentimento de liberdade.

Parte preocupante destas reflexões toca nossa progressiva substituição de atenção profunda e contemplação, de onde emergem as grandes conquistas da humanidade, por hiperatenção e hiperatividade.

Leeward Andrada Wang | Membro CETRANS
Em 1878, Nietzsche na publicação Humano, Demasiadamente Humano, coloca que:

A infelicidade dos homens ativos é que sua atividade é quase sempre um pouco irracional. Não se pode perguntar ao banqueiro acumulador de dinheiro, por exemplo, pelo objetivo de sua atividade incessante; ela é irracional. Os homens ativos rolam como pedra, conforme a estupidez da mecânica. Todos os homens se dividem, em todos os tempos e também hoje, em escravos e livres; pois aqueles que não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito.

Lentificar, fermatar, ociocizar é preciso, necessário, urgente, terapêutico!!

Milena Klinke | Partícipe CETRANS
Ainda que no começo de um percurso, os encontros no CETRANS para conversar, estudar e descobrir os afetos que atravessam o tema “Eros” têm me intrigado muito, sobretudo pelo encontro que ali se configura a cada última quinta do mês. Nos últimos tempos, eu me deparei com muita vontade de pensar mais sobre o tema, afinal, existe hoje um convite a muita experimentação direcionada ao amor, às relações, liberdade e sexualidade. Mas o que fazer com esse convite? E como percebemos essas experimentações? Em nossos encontros, estamos criando juntos, um espaço de estudo e de troca que, para mim, contribui para perceber e descobrir mais dos mundos que se relacionam com as diferentes formas de sentir e entender esse borbulhar de Eros na(s) vida(s).

Vicente Lourenço de Góes | Membro CETRANS
Há uma aproximação intensa entre Transdisciplinaridade e Infância. Trabalho com crianças há 7 anos, mais recentemente com famílias em busca de uma alternativa à escola, ao menos na primeira infância. Neste trabalho pude testemunhar a interconexão de muitos vetores que incidem sobre a criança: territorialidade, ancestralidade, genética, qualidade de vínculo com os pais, entre os pais, entre os pais e outros cuidadores, tecnologia, nutrição. Entre, através e além deles, a criança emerge na sua majestosa singularidade expressando suas necessidades em um movimento dialógico entre exterior e interior, estrutura e presença. A intimidade que a criança tem com processos intuitivos e a sincronicidade que manifesta com seu meio sempre em transformação anuncia a possibilidade da consciência emergente. Neste fluxo entre processos cognitivos a partir do mundo tangível e processos intangíveis de uma inteligência que atravessa a vida, passei a notar, dentro da complexidade, como cada criança habita os diferentes níveis de realidade e como estes, na criança, estão magnificamente em íntima relação. Compartilho minhas percepções por acreditar que é tarefa transdisciplinar mover-se efetivamente na direção de uma mudança no paradigma de desenvolvimento humano, rumo a integração viva dos pilares metodológicos da TD entendendo-os como até mesmo transcendentes à própria metodologia. Na infância, vejo os pilares intensamente vivos.

 

 ACONTECIMENTOS 

MANUEL ESPINOSA (1912 – 2006)
Neste CI@28 apresentamos nosso profundo agradecimento à família de Manuel Espinosa, grande pintor argentino da Arte Luz Movimento, que nos ofereceu o direito de utilizar sua obra na reformulação do Site CETRANS e em suas publicações afins!

Espinosa foi um precursor da arte figurativa e concreta focalizando elementos geométricos e cor, sempre oferecendo compreensão sistemática e precisa sobre a compreensão das formas. Umas das características marcantes de sua obra é o uso magistral de sombras sobrepostas de cores, de forma a oferecer às suas composições o que passou a ser denominado como flutuações rítmicas, sensações óticas que geram impressões de profundidade e de movimento. A partir dos anos 60 sua obra passou a ter mais e mais configurações de efeitos cinéticos e espaciais. Assim ele construiu muitos elementos geométricos carregados de inúmeras variações luminosas e óticas, sempre fiéis a um rigoroso sistema de ordem.

A magnífica obra de Manuel Espinosa foi exposta em proeminentes museus e galerias em diversos países e apreciada por muitos espectadores. Sua contribuição para o mundo da arte é reconhecida internacionalmente. Mais do que um deleite para os observadores, seu legado foi e continua sendo uma inspiração para novas almas criativas que aí estão e que se anunciam em um futuro próximo ou remoto.

No momento, o CETRANS procura encontrar um novo dinamismo nas suas formas de expressão e, por isso, foi muito propício e promissor entrar em ressonância com a obra do pintor argentino Manuel Espinosa, uma vez que é seu intento, como ele mesmo expressa “llevar más lejos la alianza del espíritu de geometría e del espíritu de sutileza”. Os diálogos entre luzes e sombras, entre densidades, veladuras e transparências…, tão caros a este emérito artista e ao CETRANS estão presentes em seu poema abaixo:

"Ese mundo desconocido
lejos de los objetos sensibles.
La forma se desvanece y recompone.
Cálculo y ritmo,
luz, color y equilibrio.
Paz.
La existencia despojada
del tránsito diario
materia y energía
en el espacio.
Arte,
esencia,
todo."

Colocamos à disposição dos interessados, o endereço do site com as obras de Manuel Espinosa: http://coleccionespinosa.com/en/home/.

 

 UM PONTO DE INTERESSE 

A assim chamada Light Art | Arte da Luz explora conexões entre luz – espaço – tempo. Ela pode se fazer por meio de tecnologia LED, de eletrônica customizada e de simples circuitos de eletricidade. O resultado é sempre incrível. O efeito sobre o apreciador é extremamente mobilizador.

Muitos artistas investigam e criam cada vez mais o fenômeno da luz. Esta arte permite formato bi ou tridimensionais. Nesse sentido, é quase como se a luz se transformasse em escultura. Museus famosos nos grandes centros de arte do mundo, galerias, exibições mostram para o público obras que têm se tornado célebres no mundo da criação artística.

Trabalhar com cor luz ou cor pigmento implica em conhecer diferentes leis que as regem. As cores luz primárias são vermelho, verde e azul (sistema aditivo). Ao combinar cores luz primárias, vemos que as cores não foram bloqueadas por filtros. Misturar cores complementares na cor luz gera o branco brilhante.

Mistura de cores de luz

As cores primárias em pigmento (sistema subtrativo) são: amarelo, magenta e ciano. Ao combiná-las não vemos aquelas que foram absorvidas, mas sim vemos apenas aquelas que foram refletidas. Cor pigmento é cor refletida. Misturar cores complementares em pigmento, gera o preto (a não cor). As cores primárias da cor luz são as cores secundárias da cor pigmento:

Mistura de cores pigmento

Nos trabalhos de Light Art | Arte Luz, o artista constrói sua obra a partir da aplicação de regras diversas e diferentes das que usaria ao trabalhar com cor pigmento. Muitos esquemas sapienciais, como a Cabala, já utilizavam este conhecimento.

Luz é energia. O fenômeno cor é um produto da interação energia e matéria. O comprimento de onda, a frequência e a quantidade de energia de cada raio de cor são fixos para cada cor. Dito de outra forma, uma cor é o resultado de um comprimento de onda específico, de uma certa frequência e de uma quantidade de energia particular. O olho humano é sensível a diferentes frequências eletromagnéticas. As cores podem ser medidas e vistas como relacionadas nas cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta.

Einstein abordou o corpo humano não como um agrupamento de partes químicas, mas como um sistema completo que opera um sistema em harmonia ou não, com o sistema energético eletromagnético do universo. Assim sendo, todo o ser humano está imerso em um sistema de luz que afeta suas condições de funcionamento e de saúde.

Uma Arte que tem como seu recurso de trabalho a luz torna-se além de um deleite estético, um poderoso instrumento de harmonização vibracional e cura; uma interface poderosa para processos formativos de natureza transdisciplinar para o desenvolvimento humano.

 

 UNIDADES DE AÇÃO - UAs 

UA Comunicação

Neste período de verão, em conformidade com o tema foco de estudos de 2016 do CETRANS − Cultura Transdisciplinar −, esta UA vem pesquisando Comunicação TD. A partir de vários artigos encontrados, chegamos a autores renomados no estudo contemporâneo da Comunicação, como Hans Ulrich Gumbrecht e Friedrick Kittler, ambos da Universidade de Stanford, Ivan Guerrini − da Universidade Estadual Paulista ‒ UNESP e Erick Felinto da Universidade Católica do Rio Grande do Sul ‒ PUCRS. Todo esse material obtido servirá de estudo e embasamento para nossa atuação no CETRANS.

Concomitantemente a este foco de estudo, a UA Comunicação atualiza, neste momento, a mailing list CETRANS, divulga novos cursos que acontecerão em 2016 e, também, compartilha convites recebidos que são de interesse da nossa Comunidade.

 

UA Comunidade

Esta Unidade de Ação − UA nesse período dedicou-se a contatar cada um de seus membros para atualizar seus endereços e para encaminhar as orientações relacionadas ao pagamento da anuidade 2016. Além disso, enviou e-mails a todos convidando-os a participarem das práticas de − Meditação de Lua Cheia e de Lua Nova − programadas para acontecer na Sala CETRANS nas datas divulgadas em Calendário específico para o ano que se iniciou. Esta UA, em sintonia com as decisões da última Assembleia, tem como compromisso divulgar e fomentar a participação de seus membros na programação de eventos CETRANS / 2016 que escolheu como foco a Cultura TD, sempre na esperança de engajá-los no ser/fazer transdisciplinar, a partir do processamento de sentido.

 

UA Formação

Curso: No dia 23 de fevereiro, teve início na Sala CETRANS o curso Sonhos e Tradição Alquímica criado e focalizado por Patrick Paul. Trata-se de uma série de 9 Encontros realizados a cada quinze dias, das 19h30 às 22h, de 23 de fevereiro a 28 de junho.

No magnífico texto de divulgação deste curso, Patrick escreveu que o concebeu a partir da obra alquímica - O Tratado da Pedra Filosofal – de Lambspring, escrita no século XV e que desenhou um:

… conjunto de encontros que… tem por objetivo articular nossa consciência existencial e a realidade espiritual escondida no nosso eu mais profundo. Em linguagem moderna, se trata de compreender as relações de interação entre o consciente e o inconsciente, entre o ser existencial e sua Essência Espiritual. … [Afirma Patrick ] que este pequeno tratado desenvolve de forma muito profunda, e mesmo mais ampla que a visão contemporânea, as grandes fases do processo de transformação psíquica. … [Patrick acrescenta que] estes encontros terão, além dos ensinamentos teóricos, uma parte prática de interpretação de sonhos onde os presentes que desejarem poderão falar sobre isso. Esse trabalho pretende se inscrever dentro de uma abordagem, ao mesmo tempo transdisciplinar, transcultural e transpessoal que dinamizará a descoberta de uma postura mais global, complexa e integrativa da realidade humana. O mérito desta abordagem é trazer para a consciência e, portanto, manifestar o princípio de eficiência invisível ao qual o homem comum não tem acesso. O estudo da relação entre consciente e inconsciente permite melhor apreender o processo interior e as modalidades de transformação na qual, conscientes ou não, estamos todos engajados. Este processo melhora também, na medida que saibamos compreender, nossa relação com o mundo exterior, favorecendo o reconhecimento das reações, comportamentos e identificações que se opõem ao acesso a si-mesmo.

O próprio prefácio de Lambspring para seu livro: O Tratado da Pedra Filosofal, escrito em forma de poema, já por si só localiza a profundidade desta obra. Seguem aqui trechos deste poema:

Compreendi claramente a Sabedoria
E, pela Arte, cheguei a seus fundamentos
...
Aprendereis assim, progressivamente a verdade,
...
Quando me tiverdes compreendido de modo claro e justo,
Estareis livres da ilusão.
Pois não há nada senão a coisa única
Na qual todo o segredo está contido.
Mas não vos deveis desencorajar,
Pois o cozimento da obra necessita de tempo e de paciência
Para que se possa saborear esse nobre fruto.
...
Então descobrireis naquilo que se despreza,
Que a Arte total dos Filósofos pode chegar à sua perfeição
...
Eu vou começar a descrever esta Arte,
A fazê-la aparecer sem mentira,
Por meio de rimas e imagens justas e verdadeiras,

Palestra: no dia 19 de março, o CETRANS inaugurou o ciclo Encontros TD 2016, com Vitoria Mendonça de Barros, que falou sobre o tema: Cultura TD e a Paixão pela Vida, tendo Eros como personagem principal. Vitoria exibiu trechos do filme “A Festa de Babette” e nos mostrou como a presença de Babette no pequeno vilarejo dinamarquês e seu banquete, trouxeram Eros de volta à vida de seus moradores. É o eterno embate entre Apolo e Dionísio que faz a dinâmica da vida ter ritmo, frenesi e harmonia.

 

UA Gestão

Gestão pressupõe resultados! E resultado pressupõe sustentabilidade. Nosso primeiro desafio seria como discriminar uma Gestão de fundamentação transdisciplinar de uma gestão sem essa fundamentação.

Sustentar-se significa, no caso do CETRANS, difundir ideias inovadoras e renovadoras que estejam sintonizadas com os diferentes níveis de realidade, com diferentes lógicas e inseridas em um universo de complexidade, de tal modo que aqueles que se beneficiam desse produto possam gerar um círculo de recursos que o mantenham. Assim, há um permanente ajuste de forças de troca.

Mas é no nível do irrepresentável, do inenarrável que se encontra a origem, a semente germinadora de todos os demais níveis. E nesse início de 2016, talvez caiba a todos nós uma reflexão: qual o papel do CETRANS na sociedade... e mais: qual o papel do CETRANS para cada um de nós... nesses diferentes níveis de realidade? Esse papel existe? Sua presença é robusta? Quero nutrí-la?


UA Publicação

Livros que trazem luz à nossa consciência:

SARTORI, Giovanni. Homo VidensLa sociedad teledirigida. Argentina: Taurus, 2005. Livro esclarecedor que mostra que estamos vivendo uma revolução multimídia e suas consequências para os habitantes da Terra. Esta revolução está transformando o homo sapiens, produto da cultura escrita, em um homo videns para o qual a palavra foi destronada pela imagem.

HEIDEGGER, Martin. Contribuições à Filosofia: Do Acontecimento Apropriador. Rio de Janeiro: Editora Via Verita, 2014. Livro que mostra a transformação radical do pensamento de Heidegger e que nos aponta para uma nova forma de ver o mundo quando o autor procura se confrontar com a questão da história e do poder prescritivo dos horizontes históricos sobre nós, articulando sempre verdade e liberdade em relação a tais horizontes, de um lado. De outro, Heidegger aponta para lutas e conquistas de uma nova relação com as coisas, com os outros e com nós mesmos. Na página inicial Heidegger coloca um verso como um aviso, um enigma: “O retido em longa hesitação/ É aqui mantido insinuado/ Como regra de uma reconfiguração.”

GIACÓIA JR, Oswaldo. Nietzsche X KantUma disputa permanente a respeito de liberdade, autonomia e dever. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012. O autor apresenta e confronta os projetos filosóficos de dois grandes pensadores – Kant e Nietzsche – que combateram em dois grandes lados opostos do pensamento filosófico e influenciaram e influenciam gerações até hoje. Livro essencial “para pensar o cenário contemporâneo, marcado por uma latente crise de valores e modelos”.

MAFFESOLI, Michel. L’Ombre de DionysosContribuition à une sociologie de l’orgie. Paris: CRNS Éditions, 2010. Este livro nos convida a compreender com profundidade os fenômenos da contemporaneidade: a fome insaciável dos objetos, a obsolescência rápida dos amores, a frénésie pela novidade. A trilogia Progresso/ Produção / Consumo se constituem numa caixa de ressonância na qual cada um de nós pode facilmente se reconhecer.

GUERRINI, Ivan AmaraL (Organizador) Nas Asas do Efeito Borboleta: o Despertar do Novo Espírito Científico. Botucatu: FEPAF, 2007. Quais referenciais educacionais estão sendo utilizados hoje em dia em nossas universidades? Eles foram escolhidos para formar cidadãos pensantes ou meros técnicos reprodutores de conduta, seguidores de receitas e protocolos? Qual é a postura em relação ao que é, pode ser ou não é científico? Qual definição de ciência tem sido levada em conta? Como tem sido a conduta de cada professor e pesquisador baseada nos avanços filosóficos e epistemológicos do século passado? Por que os trabalhos de físicos como F. Capra, D. Bohm, F. A. Wolf, A. Goswami, D. Zohar e outros das últimas décadas são interpretados pejorativamente como místicos e não científicos pela academia no seu dia-a-dia? Não teria sido A. Einstein um místico e transdisciplinar por excelência? Por que falar disso é um pecado para a ciência oficial? Será que essa não é uma insistência na postura acadêmica de separação dos ramos do conhecimento, como pregou Descartes no século XVII e que nos distancia do conhecimento profundo e integral da natureza?

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Corpo e Forma: ensaios para uma crítica não hermenêutica. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998. Nos ensaios que compõem este livro, organizado por João Cezar de Castro Rocha, o leitor acompanhará o percurso intelectual de Hans Ulrich Gumbrecht, cujo eixo gira, de um lado, em torno de ativo diálogo entre literatura e história, num esforço de contaminação no qual o conceito de literatura é repensado através de uma radical historicização e o ofício do historiador é redimensionado mediante a investigação da natureza discursiva da escrita histórica. De outro, seu percurso intelectual supõe a superação das tradicionais fronteiras disciplinares, num esforço de transgressão que pretende contribuir para a reconfiguração do espaço acadêmico contemporâneo”.

FELINTO, Erick. Passeando no Labirinto: Ensaios sobre as tecnologias e as materialidades da Comunicação. Porto Alegre: EDPUCRS, 2006. “Erick Felinto é um dos melhores pesquisadores da nova geração de intelectuais brasileiros voltados para o estudo dos fenômenos de comunicação. Neste livro, como grande conhecedor da obra de Jorge Luís Borges, ele passeia pelo labirinto das tecnologias, dos imaginários e das materialidades da comunicação. O resultado é uma deslumbrante aula de reflexão, uma profusão de ideias e uma caminhada interdisciplinar, entre filosofia, sociologia, comunicação, literatura e antropologia, capaz de, pela mão do flaneur, conduzir o leitor ao longo de aventura de signos, de perspectivas divergentes e de olhares carregados de significação”. (Juremir Machado da Silva – PUCRS)

 

 AGENDA DE ATIVIDADES 

1º semestre de 2016

 

 ESPÍRITO TRANSDISCIPLINAR 

Nietzsche, no fim do século XIX, se opõe às teorias de Kant e apresenta uma forma nova de olhar o mundo cujo objetivo é compreender os valores de sua época, sua origem e seu significado enquanto tal. Ele legitima as diferentes formas de saber, afirmando que o pensar é uma delas e dá ao pensamento analítico um lugar relativo, pois acredita que a racionalidade tem outros aspectos que poderiam ajudar na compreensão do mundo. Em sua obra, a temática principal e recorrente é a crítica: ao racionalismo cartesiano, ao idealismo alemão, ao empirismo inglês, a noção de historicidade. Apresenta em sua obra dois conceitos que influenciaram o pensamento moderno – a teoria do Eterno Retorno e o da vontade de potência. Para ele, vontade de potência é a vontade de todos, diferindo muito da noção que a Psicologia nos trouxe, é uma força instintiva e primordial, uma força dionisíaca, uma força criadora que todos possuem, inclusive a Natureza.

Segundo Nietzsche, “Nosso intelecto, nossa vontade, nossos sentimentos dependem de nossos julgamentos de valor; estes correspondem aos nossos instintos e às suas condições de existência. Nossos instintos são redutíveis à vontade de potência. A vontade de potência é o último lugar que podemos descer. Nosso intelecto é um instrumento.” Ele define o caráter dessa vontade de potência: “O caráter da vontade de potência absoluta se encontra em toda extensão do domínio da vida. Se nós temos o direito de negar a presença do consciente, é difícil negar aquela das paixões propulsivas, por exemplo, dentro de uma floresta virgem. (A consciência contém sempre uma dupla refração, não há nada de imediato.)”

Para Nietzsche, é através da vontade de potência que todo homem já possui ao nascer, mas que vai castrando ao longo da vida, que seria possível sair da História e entrar num tempo mais forte do que este, penetrando no fundo das coisas e resgatando o que se perdera. Esse homem renascido como Dionísio, despertará (...) "um interesse por si, uma tensão, uma esperança, quase uma certeza, como se com ele se anunciasse algo, se preparasse algo, como se o homem não fosse um alvo, mas somente um caminho, um episódio, uma ponte, uma grande promessa..."

Nietzsche concebeu duas vertentes, dois modos complementares de ser do homem e da Natureza: o modo apolíneo que se traduz por luminoso, claro, dentro da medida, equilibrado, belo, harmonioso, racional e o modo dionisíaco, que por sua vez se traduz por escuridão, profundezas, pelo desmedido, errante, trágico, destroçado, dilacerado, instintivo. Essas duas forças habitam o homem e, ao negar uma delas, ele enfraquece sua vontade de potência, se torna um escravo das circunstâncias. Ao reprimir essa vontade, em nome da racionalidade a qualquer preço (pois essa racionalidade é uma potência perigosa) ele solapa a vida limitando a própria existência.

Nietzsche, através de Zaratustra, um personagem que ele cria, faz uma crítica feroz ao conformismo, à inconsciência e à apatia que caracterizavam o homem do seu tempo e que cabem nos dias de hoje. Ele nos fala: 

"O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem – uma corda sobre um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar, perigoso olhar par trás, perigoso tremer e parar.

O que é grande no homem, é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir.

Amo Aqueles que não sabem viver a não ser como os que sucumbem, pois são os que atravessam.

(...) Amo Aqueles que não procuram atrás das estrelas uma razão para sucumbir e serem sacrificados: mas que sacrificam à terra, para que a terra um dia se torne do além-do-homem.

(...) Amo Aquele que não reserva uma gota de espírito para si, mas quer ser inteiro o espírito de sua virtude: assim ele passa como espírito sobre a ponte.

(...) Amo Aquele que justifica os futuros e redime os passados: pois ele quer ir ao fundo pelos presentes.

(...) Amo Aquele cuja alma é profunda também no ferimento, e que por um pequeno incidente pode ir ao fundo: assim ele passa de bom grado por sobre a ponte.

Amo Aquele cuja alma é repleta, de modo que ele esquece de si próprio, e todas as coisas estão nele: assim todas as coisas se tornam seu sucumbir.

Amo Aquele que é de espírito livre e coração livre: assim sua cabeça é apenas a víscera de seu coração, mas seu coração o leva ao sucumbir.(...)"

Assim falou Zaratustra - Fragmentos

Referencias Bibliográficas:
F. Nietzsche, La volonté de puissance I, Paris, Gallimard, 1995, p. 224.
F Nietzsche, Coleção Os Pensadores, vol. XXXII, São Paulo, Abril Cultural, 1974, 1ª edição, p. 318 F.
Nietzsche, Coleção Os Pensadores, vol. XXXII, São Paulo, Victor Civita, 1974, 1ª edição, p. 235-236.


 

 

 

UA Comunicação – Vera Lucia Laporta
UA Comunidade – Heloisa Helena Steffen
UA Formação – Maria F. de Mello
UA Gestão – Ideli Domingues
UA Publicação – Vitoria M. de Barros