Pela
primeira vez no Brasil, o artista belga Julien Friedler apresentou
a exposição “The Spirit of Boz”, de 22 de
outubro a 15 de novembro, no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura).
A mostra foi uma oportunidade para o público paulistano entrar
em contato com a obra aberta e multifacetada desse artista que já
expôs em países como Bélgica, EUA, Bulgária
e Itália. “The Spirit of Boz” também está
presente com ações em países como Alemanha, França,
Marrocos, Ruanda, Togo, Benin.
Nascido em 1950, em Bruxelas, Friedler estudou diretamente com Jacques
Lacan, fundou o centro La Moire de pesquisa em psicanálise
e ingressou (ou despertou) tardiamente na esfera das artes. Em 1997,
ele redescobre a pintura, tão presente em sua infância.
Atualmente dirige uma fundação voltada para a arte contemporânea
(Friedler for Contemporary Art). Neste ano, teve individuais no National
Gallery for Foreign Art, na Bulgária, e na Christopher Henry
Gallery, em Nova York.
Segundo nos informou Aline Amorim, da assessoria cultural do MuBE:
“Boz é um universo complexo criado como um “mito
moderno”. Permeada por conceitos filosóficos e referências
da pop art e da história da arte, a mostra traz à tona
diversas mitologias coexistentes. Assim como a palavra “boz”,
uma construção sem nenhum significado específico,
todo seu projeto artístico segue esse viés lúdico
e bem-humorado, mas também psicológico. Na busca da
reconquista de um ideal humanista, o artista mostra seu descontentamento
com o culto a celebridades, o pertencimento a seitas, a miséria
social e o isolamento em si mesmo presentes na nossa sociedade de
consumo.
A exposição contou com cerca de 30 obras e abrange diversos
campos da arte: pintura, escultura, literatura, vídeo, fotografia,
instalação e performance. Há ainda trabalhos
em suportes mais inusitados como histórias em quadrinhos, camisetas
e um boneco inflável com sete metros de altura que será
colocado na parte externa do museu.
- “Antes de ser artista plástico, ele é um psicanalista.
Sua arte instiga a reflexão em torno de temas que fazem parte
de todos os anseios dos seres humanos”, afirma Renata Azevedo,
diretora de Relações Internacionais do Mube. A ligação
com o divino, a infância, a teoria do Big Bang e sua larga experiência
como psicanalista e escritor aparecem de forma caótica em sua
obra, que extrapola o âmbito tradicional das artes.
“O objetivo deste trabalho, O Espírito de Boz, é
o de expressar uma percepção global do mundo, uma maneira
completa de perceber e revelar a existência”, afirma Jacob
Klintowitz no texto de apresentação da exposição.
Nas palavras de Klintowitz, a obra de Friedler é “arte
total, pois utiliza todos os elementos de linguagem e gêneros
possíveis. Espécie de ópera da era da tecnologia
de comunicação”.
Nesse universo, há a constante presença de seu “clone”
Jack Balance, um clown metafísico revoltado contra seu criador,
cujo nome é uma brincadeira com o nome do ator Jack Palance.
Ele sempre aparece com nariz e bigode postiços e um gorro que
leva o escrito “Therapy?” (em uma de suas obras, Balance
está em um cadeirão de bebê com uma mamadeira
onde se lê “uísque”). Esse personagem recebeu
os visitantes na forma de um boneco com sete metros de altura, localizado
na fachada do Mube. Balance também foi replicado em uma ação
na qual dezenas de performers, vestidos como o personagem, realizarão
um tipo de pesquisa de opinião com o público. A performance
faz parte do projeto “O Tour de Boz em 80 Anos”, que tem
como base um questionário existencialista respondido por diversas
pessoas em várias partes do mundo. São perguntas como
“Deus existe?”, “como você caracterizaria
esta época em que vive?” e “você é
feliz”. De acordo com artista, a aposta é criar uma obra
de testemunho, com intenção de “preservar o espírito
de toda uma população e erguer nada mais nada menos
do que uma floresta de almas”.
Para Jacob Klintowitz, as formas visuais da obra pictórica
de Friedler “aproximam-se das de comunicação de
massa, com o desenho rápido e caricatural, as cores chapadas,
voltadas para a delimitação do espaço, delineamento
das figuras ou estabelecimento de atmosfera”. A exposição
conta com trabalhos representativos da obra do artista em pintura,
como “Le Shaman” e “La Parole des Anges”,
e sua leitura tridimensional para “Les Demoiselles D’Avignon”,
de Picasso. “Não há a pretensão ao cromatismo
sutil da pintura tradicional ou à tridimensionalidade clássica”,
afirma Klintowitz.”